segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Berenice, a garota do sexto oceano

Berenice, uma das amadas de Poe, também costumava passar as férias no Rio. Ela se hospedava numa esquecida casa de praia de Tom Jobim, e ao caminhar pelas areias daquele sexto oceano não notava a presença de jovens músicos, que tampouco suspeitam tê-la por musa de um gênero recente: a bossa gótica; serena; mas isso já é secreto.

(Mário Montaut)

Alalaô

Indignadamente Mr. Fórum Vade Retrum.
Quo Vadis, Petrus,
tomando rum?
Fumando a amante e era verde a fulô,
em grego vento,
no meu vitrô.
E ela cantava
Alalaô.

(Mário Montaut)

domingo, 25 de outubro de 2009

ANA LEE-"MINHA CIRANDA"

Não há isenção possível diante dessa mulher apaixonada e apaixonante. Erótica voz, razão e sensibilidade. Erotismo para além dos fortes prazeres com que somos inevitavelmente agraciados na sua presença. Erótica vontade, disciplina e força agregadora. Na escolha de cada canção, arranjo, parceiro. Daí a magia de seu canto, que nos abre um generoso leque de possibilidades do que hoje ainda é canção. Acompanhando o desenvolvimento de sua obra pela mais sutil alquimia, ouso a expressão: “ouro da fé”. Lograr tal tento de harmonia na junção de matérias tão diversas, já é arte perante a qual muita arte não se justifica. “Ou será, minha flor, que exagero um pouco, quando ao também dizer de outra maneira, e com certo pudor, que você é um tesão, que te amo e te admiro muito?” Mário.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

RIMBAUD QUE O DIGA

Contra a Fome, “Morte E Vida Severina” é também a Fome de João Cabral pelo Inferno. Revisitando Nordestes João escreveu Cantos do Inferno que Dante Alighieri esqueceu de anotar. Delírios de um poeta ateu, morrer de medo do Inferno e rezar de mãos dadas com a mulher no finalzinho de uma de suas vidas?

(Mário Montaut)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

BRUXARIAS POÉTICAS DE JOÃO CABRAL XAMÃ

Agulhas

Nas praias do Nordeste, tudo padece
com a ponta de finíssimas agulhas:
primeiro, com a das agulhas da luz
(ácidas para os olhos e a carne nua),
Fundidas nesse metal azulado e duro
Do céu dali, fundido em duralumínio,
E amoladas na pedra de um mar duro,
De brilho peixe também duro, de zinco.
Depois, com a ponta das agulhas do ar,
vaporizadas no alíseo do mar cítrico,
desinfetante, fumigando agulhas tais
que lavam a areia do lixo e do vivo.

(João Cabral de Melo Neto)

Ele não nega o arquétipo; antes promove, um renascimento arquetípico, por intermédio de uma linguagem também possível através de um contato íntimo com o Real. Não vai buscar o arquétipo no Inconsciente, nostálgica divindade que se expressa, no mais das vezes, por símbolos quase apagados de uma linguagem agonizante. Se ele se finge de metafórico é para tocar nas pontas do Real, e sabe, em amplidão, dureza e profundidade, que metáforas, metáforas civilizadas, são as nossas agulhas e punhais, perante as Realidades Cortantes que participam do mundo em essências de tamanha força, que não temos mesmo a menor chance de nos aproximarmos delas em demasia. Bruxarias Poéticas de João Cabral Xamã.

(Mário Montaut)