sábado, 24 de setembro de 2011

Presença do moinho

(para Chico Buarque de Hollanda)

exacerbação afetiva e caloeira dos anos, papagaios do tempo que se desdoura línguas, em pontos de areia não cultuados pela garça, e essa maestrina de borboletas em sua gravata cheia, dispersa no areal onde lentamente ela sapatisa, e a aura branca em seu formidável entorno, quimera dos capilares bravos, de seus doces queixos caídos, e marota, ela convoca dança, confunde limbos e glória das sapatilhas de puro cacto, espelhos de um reverdeio nocauteante espreguiçam-se ao longe das serras nas contramarés, mas ela flora e exibe um porte físico acondicionado a gracejos múltiplos, e ela gira pombos e leões pequenos, ursas famintas e bosques recônditos da areia, ela pesca com as mãos, ela caça com seus alambiques ocultos nas axilas e realejos de promontório. Sem desconhecer as matilhas, ela entesoura movimentos e instrumentálias súbitas da fome que nos acomete quando ela quer reflorar, não é logística, casuística de ginástica ou abordagem zen das pedras, e ela, combina reaquecimentos memoriais com equações náuticas de botes dos namorados e fantasmas de marinheiros, ela filma, e se descontrola às faíscas é para o nosso bem contemporâneo de viver às fartas, aos boleros, aos cardumes, às verduras, se ela faísca é por um mal menor das rosas, descobri-lhe mártir dos próprios joelhos uma horinha antes de se decidir a vir para cá, onde há cânones da mesa oriental refeitos em conchais, e ainda basbaqueando os rubores das divinas, num sopro é quando lhe adivinho as saídas e entradas parturientes do gestual, ela é canôra, rodopiando às lontras, e mestre de uma linhagem ainda ignota, convulsiona todo esse trêmulo geográfico que a quer, que dela necessita para uma redefinição das gafieiras mágicas.

sepúlveras festas do infinito; que num regurgito de balões me esplena, incita limites que não são meus, que arribam palavrórios velharcos, que num regurgito de balões me tocha e levita, e as pérolas do som na gravidade, são vacas mugindo aos balões do seu regurgito, sejam às tochas do egito, sejam ao ordenhar infinito, impondo limites aos olhos da vaca e sinais curiosos do espaço breu, que são vacas regurgitando o próprio leite do egito, entre pérolas do breu, e havia um mar a mugir ostras, havia um mar a mugir estrelas e rebanhos ciganos, enquanto balões sem acenderem as tochas deslizavam para obscuros véus, e haviam vacas ordenhando mares de mugidos a despertarem ostras e estrelas de um egito sem céu, enquanto a cigana relampeia esses gados e os incêndios vagam no espaço, de riso em riso para os rebanhos de moças postados na terra enquanto grãos de ouriços e divinas avermelhadas mancham o rincão das “tempestuosas”, rindo à miúda soltas que nem um balão das festas infinitas, onde o céu reabre leites e mares, fogueiras e um precipício de divas escandalosas, soltas à deriva dos risos balões, quebrando mais que ondas na pirâmide seca da única menina que dorme.

...czares de fonte e apetrechos do eco, polpudos chapelões e avarandados ponteando a viga dos quebra-rios, e radares pontudos imantando ossos; ventríloquos presbíteros e rainha que inerva os alçapões de um ducado em névoa, os quentões servidos ao gelo das plantas, um desserviço aos jardins bem-arrumadinhos e gratinados à alma dos polvos tubérculos, apreciadíssimos nestas gramas de jovens pernas; e no recanto dançarino o aquário orgulha-se dos vastos mares que contemplou pelo olho do vigia, e os limões, a fogueira realizada nestes verdes tenros de graça, todos abandonam a crença edênica de haver um só tipo de jardim ou clima no planeta, deste hemisfério ao lado do muro, resplandem as contradições da festa, sem equações, lupanares, mares resolutos a causar estragos além do escândalo natural dos risos, é bem possível que a seresta tenha nascido de um pinho breve como este.


...enquanto um talismã de Nereu rebusca a bússola caída; ela não imagina mais nada, coitada, acerca das direções, não esta mão farpada de pelos agudos, que se adianta aos tijolos da moradia, que reouve e redescobre o relampiar aflitivo da bússola em tombo, ainda, sem sonhos direcionados ao sul, e alvéolos assustadiços tremem pela súbita empreitada dos ares, maremotos incrédulos descansam ainda da mão peluda envolvendo a bússola ferida e os tijolos da mansarda reconhecem as espreitas do arvoredo silente, tudo acompanha a respiração da bússola já nas mãos inquietas, eriçando o pelo dos mares, enquanto o ponteiro ereto, mesmo na queda, inaugura ângulos de viagem; a perniciosa noite se calou, aprofundando a aurora que deflora as primeiras pontes.

não sói adamar-se nos frascos e perscrutar lavandas.

O persuasivo jacaré pergunta-se dos aromas, o dissuasivo candelabro questiona-se, os ruiseñores alardeiam o olor dos vidros, a cabotina alma se envidraça próxima à jaula dos perfumes, mas a eleita apenas se banha e ignora tal recipiente.


cinco dedos latejavam ideologias, calçados em couro; a outra raiz desnuda; e a moça desfolhava-me alheia aos livros que edificam os equívocos do bosque;;;


É mister louvar o erro crítico, errar nas louvações do hábito, e escutar, escutar silente, os tempos que atravesso o álbun quão gérmine-flor indispensável do nervão peixuno, barítono de membrana acesa, diapasona, talvez, mas errantes eras atravessaram a poética desacordada em musicalidade morta de paisagens, conquanto inaugure em vasos de hipoderme a versão de seus caprichos a ocultarem a capital daquele espaço, portanto, ouvindo o marco epistemológico de épocas e épocas acolhidas entre as perdidas deste disco, violarem a sujo e a limpo disporem as memórias deste disco, mediante cruzadas de anos e anos carregados, pólens suburbanos, ora marítimos ateiam ventos e entre uma a uma audição e outra estas cínicas novenas, de cor tranquilamente mutável sobre o cd Chico.


aí ele tocou no irrouxinol do vácuo, e a pia abisma-se em alaridos; as asas pensam que se se alhumbra, desconcerta ou cicia-se a razão do coreto, o desentupimento do ralo flora a cândidas silvestres, o que logo a preguiça própria da labuta aparafusa no retro-visor da página; pupila amuada da periquita, em lama e latim se entorpecem as noções de grandeza, e mão no ralo, e alpiste, castanhas e precipícios, ali uirapurus dão conta do ramalhete sobre o funeral dos livros, e ainda que se perpetue a coincidência, a maciez, extravisiva, a olheira, ainda que se desplante o território dos ossos livres de cadeira, ainda assim o racional perene se envaidece desses louros inextinguíveis; reumatismos, crematórios e lanchas, e o gesto para além da toalha toca instrumento inaudível ainda, entre, per plantas, e intumesce o gelo do desarazoamento, conquanto lago, fóssil divino e lepra amiga que arguta, fabula mãos de alma pra outro trabalho; talhe inconsiderado por essas; e quem diria as sempre torneiras e o jovem cano, o buraco flértil, a rombuda lava do nagual sereno, preenchendo-se anti-tochas, contra-musgos de erupção e réptil fuzuê, à máquinas lampadifárias na antevoz da voz mesma, que ilumina a fala que descongestiona o aperitivo, ronrona-se um privilégio de atribuir, voz clara e madura parte-se na entrefruta que está para se comer.




que o moinho não esmague maravilhas, o vidro corta essa madeira; cuidado mó! cuidado pá! que a cruz girorbita feito hélice de borboleta perto ao radar, e acende-se helênico, o moinho que não moe graças, que não se arrisca no espírito que vaga entre a moagem, brilhante, espirituoso, e a maravilha das almas corta tal vidro a cruz da moagem, e o moinho segue breve, mas que não moa, que não pese a maravilha destas plantas através da aventura; plantas de rio, e já oceânicas, que o moinho não se entesoure destas raízes ou folhas, e que as flores da ilha não passem, por promessas de fé, a ilha que a tudo corresponde em reflexos. Que o moinho prossiga, e que o persiga a rosa de longo alcance, fincada no ilhéu, e que o cristal maravilhoso não requebre perante a cruz que moe, sossegada, tranqüila, e que veloz prossiga o milagre, que não se opere por grãos-de-vento; que não se quimere mesmo se lindo for o moinho e seus princípios, o moinho e suas leis, o moinho e suas naturezas, a fé, vitrala numa igreja sem paredes, nem ruína ou vidro, matéria que se suponha, que a fé redoura-se de peixes e cósmicas inalações do fogo, e por familiar que seja há de insurgir-se contra, o moído, o moível, e o que também a alimenta pela boca dos olhos de uma Madonna sangrando em seriedades de espelho, após a elétrica nuvem desespelhar o impensável belo, e que transfigure-se, Madonna, no cacto de seu riso salvante, picante, escaldador, e pelos seus olhos bem labiados como tudo que se assenta na paisagem; a fé, na digestão das sestas, na injeção das horas, e a tela dum velho mestre não a corrompa, Madonna, nem por um cílio, nem por pincel, nem por encanto sohrrível, qual cascavel generosa, e que seja assim mimada em cores de rosa-tufão, e a ilha nela, a mó, a contramoagem, a fina maré, a anticruz do silêncio: Fé, assim Madonna dorme.


e ao puxar um fole luminoso, soando arco-íris e passaredos visíveis feito um mar tão verdes, quando na torre pia, faz larônte, e lendas bretãs, alaridos de procissão no desmame da facúndia, bússolas despertas num idílio do xote, e as derradeiras sombras de feira, as velas sustenitas, as barcas, e as conversações animadas do altíssimo terraço, libações a outroras de véspera caçada sem fera ou arma, tudo isso num puxe e repuxe de fole, o inspirado fôlego do moço a tocar um instrumento contra os efeitos de verbete: sanfona; a crédulo tal se Gonzaga zarolho circunscrito fora ao sertão, à graúna, qual não fosse ele, e seu acordeon, também esta Inglaterra perfumeira e ressanfonada.


Chico, em sua obra recente ative-me ao ouro de dura extração: Carioca, Sonhos sonhos são, A ostra e o vento, Subúrbio, Nina...Querido diário que te quero pra anotar sempre em Buarque a presença do moinho, a presença do moinho que desde Holanda, Chico, deifico, e me justifico em tais canções do sabre, em tais canções da esgrima fina dos sonhos doravante ouro intraduzível, na contraflora desta cultura pútrida e serena. 6 canções. Fixo-me quixotescamente obsedado pela presença do moinho nas misteriosas cidades, flagrante místico de geografias insondáveis, inapreensíveis mesmo, pela ciência desta era. Metafísica insofismável. E os humores do oráculo. Os rasgos na máscara pública. As contenções de cidadania. As funções de espelho e candelabro. Os becos lúcidos que jamais evitariam suas notas sombrias. Recomponho o fractal sozinho. Num querido diário o moinho esmaga a universalidade vã de uma sociedade atroz e blasé. Expande-se o cósmico pessoal nuns poucos cantos de eternidade.


Volhútas que esguiachavam brancas no bom suor do meu sorriso. Tempero-vos com todos os outonos molhados. Y ramos chibatem meus finados dias sy esta têmpora feliz de risos dentes não louvar a quêntura neve do eterno domingo.

(Mário Montaut)