quinta-feira, 15 de abril de 2010

Bach Nagô

E então ele me disse: “ Bach é o escândalo da provença. A proeminência da coroa e seus alteregos negros, não bem de carne, ou moscas, tão de leve semínimas da pauta. Bach é um bordão precioso. Privilegiada leitura musical de sagrados textos em quase solitude, não fossem ele, seus cabelos, seus dedos e as ávidas teclas silenciosas da igreja, prontas a virarem um inferno, a confusionarem o coral de anjos quase perversos; e morcegos mil arrombavam os vitrais só com o alarido de suas presenças. O reizinho negão contava de Bach Nagô e suas tutelas. As falanges de Orixás profusavam de gozo, e o sol relampeava na caldeira luterana ao lado do poço na areia do meio-dia. Bach é a conveniência católica e protestante a impedir o milagre das muitas vozes aguardando os tambores da tribo.

(Mário Montaut)