segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Berenice, a garota do sexto oceano
(Mário Montaut)
Alalaô
Quo Vadis, Petrus,
tomando rum?
Fumando a amante e era verde a fulô,
em grego vento,
no meu vitrô.
E ela cantava
Alalaô.
(Mário Montaut)
domingo, 25 de outubro de 2009
ANA LEE-"MINHA CIRANDA"
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
RIMBAUD QUE O DIGA
(Mário Montaut)
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
BRUXARIAS POÉTICAS DE JOÃO CABRAL XAMÃ
Nas praias do Nordeste, tudo padece
com a ponta de finíssimas agulhas:
primeiro, com a das agulhas da luz
(ácidas para os olhos e a carne nua),
Fundidas nesse metal azulado e duro
Do céu dali, fundido em duralumínio,
E amoladas na pedra de um mar duro,
De brilho peixe também duro, de zinco.
Depois, com a ponta das agulhas do ar,
vaporizadas no alíseo do mar cítrico,
desinfetante, fumigando agulhas tais
que lavam a areia do lixo e do vivo.
(João Cabral de Melo Neto)
Ele não nega o arquétipo; antes promove, um renascimento arquetípico, por intermédio de uma linguagem também possível através de um contato íntimo com o Real. Não vai buscar o arquétipo no Inconsciente, nostálgica divindade que se expressa, no mais das vezes, por símbolos quase apagados de uma linguagem agonizante. Se ele se finge de metafórico é para tocar nas pontas do Real, e sabe, em amplidão, dureza e profundidade, que metáforas, metáforas civilizadas, são as nossas agulhas e punhais, perante as Realidades Cortantes que participam do mundo em essências de tamanha força, que não temos mesmo a menor chance de nos aproximarmos delas em demasia. Bruxarias Poéticas de João Cabral Xamã.
(Mário Montaut)
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
SONHANTES
EL SUEÑO
Si el sueño fuera (como dicen) una
tregua, um puro reposo de la mente,
?por qué, si te despiertan bruscamente,
sientes que te han robado uma fortuna?
?Por qué es tan triste madrugar? La hora
nos despoja de um don inconcebible,
tan íntimo que sólo es traducible
en un sopor que la vigilia dora
de sueños, que bien pueden ser reflejos
truncos de los tesoros de la sombra,
de un orbe intemporal que no se nombra
y que el día deforma em sus espejos.
?Quién serás esta noche en el oscuro
sueño, del outro lado de su muro?
(Jorge Luis Borges)
LA FEMME VISIBLE
“ de dia, procuramos inconscientemente as imagens perdidas dos sonhos e, por isso, quando encontramos uma delas, cremos reconhecê-la e dizemos que, só de vê-la, somos levados a sonhar.”
(Salvador Dalí)
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Quando acordo então, recordo
Quando durmo então, relembro...
(dois versinhos de Mário Menino Montaut)
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
MOLEQUE
se lhe foi dado,
o leque do incognoscível,
abane...
abane os nossos jardins,
abane...
abane as nossas fogueiras,
abane...
abane as nossas canções,
abane...
o céu e as nossas risadas.
Quero-lhe bela e de leque,
o leque do incognoscível.
(Mário Montaut)
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
UM GATO VERDE
O ma...r´um gato verde
O ma...r´um gato verde
O ma...r´um gato verde
O ma...r´um gato verde
E a mãe
E a lua
E a torre
E o piano
Tudo estava em Ulisses
(talvez um dia eu leia Joyce)
O ma...r´um gato verde
O ma...r´um gato verde
O ma...r´um gato verde
O ma...r´um gato verde
E a torre
E o piano
E a lua
E a mãe
Tudo estava em Ulisses
(talvez um dia eu leia Joyce)
O ma...r´um gato verde
O ma...r´um gato verde
O ma...r´um gato verde
O ma...r´um gato verde...
(canção de Mário Montaut)
sábado, 22 de agosto de 2009
CAOS
Menino mundo
Brilha fundo brilha lindo
Ô ô ô...
Turbilhão
No chão do vale
Vento novo armando um eco
Ô ô ô...
Coração
Batendo lento
Minha vida no começo
Ô ô ô...
(canção de Mário Montaut, 1981, a ser gravada na próxima segunda-feira, 24 de agosto de 2009, no estúdio do Roberto Gava)
terça-feira, 11 de agosto de 2009
BEATLES EM VULCÂNIA
(para Júlio Verne);
é música de Mário Montaut
traduzindo o barroco de sua alma
em nitidez lindamente caótica;
e acessível
mesmo aos bossanovistas;
aos fãs do Radio Head;
aos devotos de Niemeyer;
a quem
a estrela de Hendrix
não raia na manjedoura.
(Sendo gravada no estúdio de Roberto Gava,
com participação do próprio na guitarra e sopros).
Outra onda pelo Náutilus
sonhando na praia brava.
(M.M.)
McCARTNEY D´YESTERDAY
(M.M.)
FLOR IDEAL
em coroas;
pingos d´água.
A Flor Ideal não é tenra;
nem vermelha;
tampouco beija o chão umedecido.
A Flor Ideal não se libera em jaulas;
hipocampos silenciosos;
embevecidos marfins d´alma.
A Flor Ideal não se emoldura ao vento livre;
não se precipita em abismos;
não se despetala ao sol.
A Flor Ideal cintila em idílio próprio;
generosa a teu olho;
e a teu ser de aflitas mãos.
A Flor Ideal guarda a medida;
para o palpite último
de tua vã comédia.
(M.M.)
terça-feira, 4 de agosto de 2009
INCONCEBÍVEIS PARA FÃS
(M.M.)
DANDO CIO AO RABO DA SEREIA
(M.M.)
domingo, 2 de agosto de 2009
PEQUENO COSMO
(M.M.)
sábado, 1 de agosto de 2009
INOCENTE
(M.M.)
quarta-feira, 29 de julho de 2009
MÃE
azul me chama
azul me ouve azul me vê
o indizível quando luz nos diz assim
azul
quando se ama
Infinito diz o mar
azul me chama
azul me ouve azul me vê
o indizível quando luz nos diz por quê
azul
quando se ama
Infinito diz o mar
azul me chama
azul me ouve azul me vê
o indizível quando luz nos diz enfim
azul
quando se ama
uma canção para o Infinito céu na água
uma canção para o Infinito azul
uma canção para o Infinito céu na onda
uma canção para o Infinito azul
(M.M.)
(canção de Mário Montaut, janeiro de 2002, composta nas praias de Trindade e Paraty, e gravada em julho de 2009 no estúdio Azulão, de Roberto Gava, Jabaquara, SP)
EM VULCÂNIA
(M. M.)
TINHA AQUELE ARCO-ÍRIS MUITO MAIS QUE SETE CORES
(M.M.)
quarta-feira, 1 de julho de 2009
PRESTES LÔUVORE AFLUÊNCIA
de baba e medalha;
cantochão do rio em cócega: seu retrato flutuou numa concha de puro espelho- que não era vidro; nem eram águas de seus vinte anos; nem éguas quando empinam. O Espelho eram comichões. Convulsivos reflexos da torneira aberta;
de navalha e méritos;
influência dos pêlos grudados na pedra, a lâmina gasta no gume da rocha cortando o que rio janela e um cravo bem temperado nestes recuerdos de espuma. Diplomas. Amores Afinados. Escola de Latim em discórdia de sangue a pingar.
(Mário Montaut)
AVE MUNDO
(Mário Montaut)
terça-feira, 23 de junho de 2009
DO LIVRO SOL
na ereção da velha flor
é o presente de uma águia
que ao cantar me ensolarou
E Abra-te Livro
E Abra-te Livro
E Abra-te Livro Sol...
(Mário Montaut)
A OSTRA E O VENTO DAS CIDADES
[no álbum “As Cidades”, de Chico Buarque de Hollanda]
Aquelas 5 notinhas descendo e subindo a escala. Num sopro. “Gotas de inspiração”, disseram os escribas anciãos da antiqüíssima Veja – ano de 1998, dezembro: “O que era um jorro, agora são gotas de inspiração”. Queriam retumbância épica pelas cidades isentas de Sonho.
Quando a mediocridade social interdita as parcerias do artista com os cidadãos, o que ele produz, no máximo, são obras menores. A individualidade do artista democraticamente exilado ainda permite esses pequenos milagres. Mistérios da Sagrada Inspiração!
Mas como dizia, aquelas 5 notinhas subindo e descendo a escala, num sopro, vêm do “Prelúdio para a tarde de um fauno”. Sim, e Debussy também compôs em “La Mer”, um “Diálogo do vento com o mar”. E como a fascinante violência dos mares lhe paralisava os poderes de criação, ilhou-se, para tal, numa dessas cidades onde havia certamente um realejo; logo, as 5 notinhas introdutórias não têm dono. São domínio público. Um presente do vento, como sabem a ostra, os realejos de Claude Debussy, os amoladores de faca, os mares e rios do tempo, o “Espírito que sopra onde quer” e, claro, algumas cidades.
(Mário Montaut)
PESSOA
(Mário Montaut)
terça-feira, 16 de junho de 2009
AS RÁSQUIAS DA GUAÍZA
Raia;
Bico de ave-rásgo.
Raízes, ébolos, gírias eruditas futuráveis,
passadas as longas vésperas de rouquidão,
as flores,
oásis e ventos,
Raízes de areia e
invenção de rásquias,
guaízas,
prosqueridão indígena da pedra de alta voltagem.
Dando choques na Europa.
Filtradas as águas do presente rio,
guaíras,
lumêns voluptuosos aglomerando-se na pia da rocha mar.
Sereias de Profundis.
Luíza,
e a velha canção do Tom
cerimonial das jobinianas pontes carcomidas de onda e sal.
Fonte.
E as Rásquias da Guaíza
as nossas sementes de prosqueridão.
(Mário Montaut)
domingo, 14 de junho de 2009
caetano, zii e zie, com muita bobagem e alguma razão:
(Mário Montaut)
quinta-feira, 11 de junho de 2009
VULCANOS
nos díspares espanholes
de faróis de fogo.
Materna luz que flui de uma lanterna na forja,
apesar das enxaquecas,
não me fio a nápoles, nem aferro a bahias, e prego às ondas.
Fui um sapateiro ressuscitando encarnações de rainhas descalças,
dormi em campos de feno, clubes de golfe, e sob as suspeitas luzes da linha férrea...
Renasci mitólogos, édipos e vulcanos;
e mais fervorosa prece de Pompéia, meu nome foi escandalosamente silenciado em bocas amantes;
preciosas ferrugens de artesanato, desconvulsiono os tronos de toda ânsia de jóias.
Do México à Itália, do magma às areias deste pomar de praia;
e com o mínimo de cautela, batizo este cacho de uvas.
(Mário Montaut)
segunda-feira, 8 de junho de 2009
BANHO DE ALMA-TADEMA
dérma vie,
urubu de costas.
Imperador dente caindo:
dentada inteira a ouro e sol.
Roma: o banho de Alma-Tadema.
Mulheres de Tôca.
Romano Banho em Toca do Sesc.
O progresso das águas; e a cega de óculos me ri.
Bichos na água.
Ó Torre!
Belezas De Trampolim,
em salto imortal.
(Mário Montaut)
A SAGRAÇÃO DE STRAVINSKY
é surda aos ritmos de luz da tribo
e conflagra trilros de semente envenenada;
Quão cego é o clarão para a noite de hoje ensolarada.
O corpo em riste de contra-fuga permuta os braços da tarde com os atrofiados órgãos do dia mais longínquo no corpo cósmico;
Da Moça:
que ri contendo os astros rebelados em cócega por sua musculatura lisa e incendiada.
A Tocha.
Archotes da Ilusão e Flautas;
Foguetes e Barbitúricos.
As manufaturas de tribos são múltiplas de dividendos a Deus sem ostra,
Deus sem siri,
Deus sem camarão,
Deus sem frutos do mar.
Apenas o pomar do fogo coletivo,
e seus frutos de moça,
e seus coléricos umbrais de Baobá no Portal Da Oca.
E nos portais da Urca os místicos rasgos da pedra ofertam-se ao mar de quem sobe a montanha;
Barcos pra trás;
E o Cristo Bárbaro é Redentor das Graças Atávicas, no bom costume de mergulhar-nos em vergonha.
Afrodisíacas coragens.
Milagrosos cataclismas celulares, que antecedem há muito, os serviços da Telefonia escatológica, o entroncamento nos ramais da Engenharia Genética e mais e mais progressos invisíveis ao calor desta dança.
(Mário Montaut)
terça-feira, 26 de maio de 2009
OUÍ DEBUSSY
(Mário Montaut)
segunda-feira, 25 de maio de 2009
IMORTALIDADE DO MUNDO
e as límpidas estrelas pingando gotas de choque
nos vitrais batendo correntes.
Elos virgens da folha à mata,
da onça à flor,
da seiva à boquinha da taturana
percorrendo um anjo estampado no mármore da gruta;
cavernas renascentistas e Leonardos caçadores;
com Giocondas embutidas em cada célula triste;
que às vezes gargalham telas de outras músicas;
impronunciáveis pelos instrumentos pintados nas cores sem moldura;
e artefatos dos demônios solares surfando em raios na onda noturna de rútilos brindáveis.
É toda uma cosmogonia íntima de coisas e seres tramados na infinita partilha de nossa fé pela imortalidade do mundo.
(Mário Montaut)
ESBALDAR
Despetalava em fios d´água doce na salina das ondas.
O balde de terra em pó caía no sol e lua.
E os peixes,
ciganos,
dromedários,
aborígenes de vênus na ilha,
riam de nós,
a lama das rosas
na doçura das deusas salgadas.
(Mário Montaut)
domingo, 17 de maio de 2009
2 VANGOGHIANAS A LA CHAGALL DE MÁRIO MONTAUT (TRECHOS)
Quando o sol brilhava sobre o jovem trigal que dava pães de fazer inveja aos árabes das noites 1.000 e 3, margaridas e beija-flores moravam conosco na casa de minha avó Lola, traída por uma Corva Aparecida em maldita tarde, e por meu avô padeiro, desesperado de ciúmes de seu despertador suíço que todas as manhãs a acordava na hora em que do forno saía o sábio pão do erotismo escravizado.
(Mário Montaut)
sábado, 16 de maio de 2009
“CÁSSIO GAVA- DOIS” (álbum lançado pela Dabliú Discos)
(Mário Montaut)
ANA LEE (álbum independente)
(Mário Montaut)
quarta-feira, 13 de maio de 2009
APARECIDA
(Mário Montaut)
sexta-feira, 8 de maio de 2009
LEITE DERRAMADO POR CHICO BUARQUE
(Mário Montaut)
domingo, 3 de maio de 2009
Memory almost full, de Paul McCartney. Hear Music. 2007.
(Mário Montaut)
JUNK (Paul McCartney)
Bicycles for Two
Broken Hearted Jubilee
Parachutes, Army Boots
Sleeping Bags for Two
Sentimental Jamboree
Buy Buy
Says the Sign in the Shop Window
Why Why
Says the Junk in the Yard
Candlesticks, Building Bricks
Some Old and New
Memories for You and Me
Buy Buy
Says the Sign in the Shop Window
Why Why
Says the Junk in the Yard
(Paul McCartney)
FRIA (para João Cabral de Melo Neto)
Fogo sólido;
O triunfo do vulcão.
Brinco,
Anel,
Colar.
A volúpia da Rainha da Neve.
Cristal,
Natal,
Cabral,
Um dia.
E a razão de João,
Que já gostava da coisa
Quando alguém lhe dizia
Que ela era...
Fria.
(Mário Montaut)
sábado, 2 de maio de 2009
O INGÊNUO (Jorge Luis Borges)
Capazes de torcer a mais firme fortuna;
Há pegadas humanas que mediram a lua
E a insônia devasta os anos e as milhas.
Espreitam no azul públicos pesadelos
Que entenebrecem o dia. Não há no orbe uma
Coisa que não seja outra, ou contrária, ou nenhuma.
A mim só inquietam os espantos singelos.
Assombra-me que a chave possa abrir uma porta,
Assombra-me que minha mão seja uma coisa certa,
Assombra-me que do grego a eleática seta
Instantânea não alcance a inalcançável meta,
Assombra-me que a espada cruel seja formosa,
E que a rosa tenha o perfume da rosa.
(Jorge Luis Borges)
FLOR DO MAL
No jazzíssimo irreal
No jazzíssimo irreal
Dar-te a flor do mal
É natural
No jazzíssimo ancestral
No jazzíssimo ancestral
Dar-te a flor do mal
É natural
No jazzíssimo infernal
No jazzíssimo infernal
Dar-te a flor do mal
(Mário Montaut)
DAS PRAIAS SELVAGENS
Sant’Altíssima” Mar’’’é
Selvagens Praíssimas
Mar Do Sol Poisé em Cios
os jobins nos amorinam
y a garota do Leblon
num coral
erra o tom
do Amor Louco y Seus Afins
2 São Jóvens cantam Ma’...
...r´´ondas, y ondas mais
(Mário Montaut)
O NOVO XAMANISMO (título da matéria publicada na revista Rolling Stone)
(Mário Montaut)
JUNHO, 1968 (Jorge Luis Borges)
ou numa serenidade cujo símbolo
poderia ser a tarde de ouro,
o homem dispõe os livros
nas prateleiras que aguardam
e sente o pergaminho, o couro, a tela
e o agrado que dão
a previsão de um hábito
e o estabelecimento de uma ordem.
Stevenson e outro escocês, Andrew Lang,
reatarão aqui, magicamente,
a lenta discussão que interromperam
os mares e a morte
e a Reyes não lhe desagradará decerto
a vizinhança de Virgílio.
(Ordenar bibliotecas é exercer,
de um modo silencioso e modesto,
a arte da crítica.)
O homem que está cego
sabe que já não poderá deslindar
os formosos volumes que manuseia
e que não lhe ajudarão a escrever
o livro que o justificará ante os outros,
mas na tarde que é casualmente de ouro
sorri perante o curioso destino
e sente essa felicidade peculiar
das velhas coisas amadas.
(Jorge Luis Borges)
Para uma versão do I Ching (Jorge Luis Borges)
Quanto o rígido ontem. Não há nada
Que não seja uma letra calada
Da eterna escritura indecifrável
Cujo livro é o tempo. Quem se demora
Longe de casa já voltou. A vida
É a senda futura e percorrida.
Nada nos diz adeus. Nada vai embora.
Não te rendas. A masmorra é escura,
A firme trama é de incessante ferro,
Porém em algum canto de teu encerro
Pode haver um descuido, a rachadura,
O caminho é fatal como a seta,
Mas Deus está à espreita entre a greta.
(Jorge Luis Borges)
Tradução de Josely Vianna Baptista
quarta-feira, 29 de abril de 2009
EU FALO
E machos em cachos
Macheiras que floram
Na femeocracia
A cria macia
Da prima costela
É ela é ela
Que eu falo poeto
Quando eu falo nela
Eu falo em vocês
E as três primaveras
Se abrem de vez
(Mário Montaut)
FALA RENÉ CHAR
DO LIVRO SOL
loira luz nos altos ares
em Jesus reluzem mares
que a caneta azul lambeu
(Mário Montaut)
MÍSSEIS DA RESSURREIÇÃO
agora luzem:
Mísseis na porta do céu
(Mário Montaut)
QUASE AVE GIRASSOL FOGE DA TELA, em 5 de agosto de 1991
“PAI DAS NOSSAS AVES E MARIAS SALVEM AS RAINHAS DE JESUS NO CREDO E O MEDO DOS PÃES VENENOSOS QUE O GIRASSOL MULTIPLICOU E OBRIGOU CRISTO A COMÊ-LOS JUNTO AOS LEPROSOS DE ATLÂNTIDA, AMÉM! AMÉM!AMÉM! CORAGEM, DESUMANOS IRMÃOS ANDRÓIDES CHEIOS DE GRAÇA EM VOSSO VENTRE ABORTA O FRUTO QUE QUERIA A ALELUIA DOS BICOS DAS PENAS DE MATEUS QUE LÁ ESCREVIA O MILAQRE ECLIPSADO QUE OUVIA ONDE SE ESCONDIAM OS URUBUS ENFEITIÇADOS DE MEDO HUMANO EM SUA MAIS PURA COR PAI DOS ANJOS DE CADA DIA LIVRAI-NOS DA MORTE NA HORA DA VIRGEM DIZER AMÉM AO QUE ESTÁ NOS CÉUS E PUTIFICA OS NOMES DOS HERÓIS QUE NO REINO DE MANHATTAN FAZEM A VONTADE DA MORTE DA OBRA PRIMA NA GRAÇA DA VERDADE QUE A CABEÇA DE UMA ESTÁTUA ESCONDEU DAS ESCRITURAS QUANDO O SENHOR ERA CONVOSCO E NÃO NA COVA DO EX-VAN GOGH AGORA RICO DE CORAGEM E POESIA DO ALÉM...AMÉM!AMÉM!AMÉM! “...Assim rezavam os fiéis na Catedral de Nova York, misturando frases de pútridas orações com versos da nova tragédia da qual se afugentaram no templo que evapora de calor no amor de uma flor que se fez águia para ressuscitar verdades abençoadas pelo olhar da estrela no céu da metrópole enfim liberta...e morta de gentios...e VIVA! E VIVA! O Sol que girará amanhã cedo quando das águas do Manhattan sairão os Novos Filhos de uma civilização florida em desordem musical...E Além...E Além...E Além...
Que cara tinhas, Floráguia? Como conseguiste fugir da tela e como ouvias a risonha melodia da estrela sobre a cabeça da estátua da Liberdade que lá do alto enviava o brilho que alimentava e aquecia o exército dos proletários do espírito? E em que pensavas lá na tela, Floráguia? E como teus girassôneos se infiltravam pelos bilhões de neurônios loucos, que na cabeça do dormente Van Gogh sorridente brilhavam mais que todas as constelações do Além? Que culto ultra-católico professavam os fiéis do medo quando de ti se escondiam na Catedral e rezavam aquela louca oração? E porque os mísseis bacteriológicos atômicos neutrônicos adivinhavam que irias derretê-los ao captar suas primeiras vibrações homicidas? Como? Como? Que Papa rezou a missa? Quem era o chefe da máfia e da súcia das NASAs, das Rússias e seus KGBs naquela época? E que estrela era essa, que pousada na cabeça da estátua beijou a Floráguia e se retirou ao céu para ouvir o canto que detonaria a Floráguia e a cabeça da estátua que uniriam seus fragmentos em núpcias que contariam esses segredos? Serão esses os segredos ouvidos pela multidão que, bêbada de lucidez, se precipitou no Manhattan? E que fim levou a civilização dos robóticos japoneses? E quem é o Rei Van Gogh que impera a civilização do Não Medo? E quem é esse Deus que apodrece no sepulcro do ex-Van Gogh e já é devorado pelos corvos que escaparam de uma outra tela do ex-Van Gogh, que agora ri, pois os vê mudando de cor após o lauto manjar e ordena que jamais venham a este novo reino, pois mesmo não sendo mais corvos carregam no estômago a carne podre de um Deus assassino? E quem são e de que forma nascerão os futuros Van Goghinhos que amanhã quando a estrela que Van Gogh não pintou em sua noite estrelada ainda brilhar no céu feliz por ver o sol que aquecerá os corpinhos dos redentores de uma Civilização de Verdade Ouro? Confesso que durante o tumulto não escutei as verdades poéticas que foram lindamente cantadas...Assim, curioso e aflito espero que os novos gênios crianças saiam das águas do santo Manhattan, pois com certeza eles cantarão para mim o Hino da Civilização Desrobotizada...E além...E Além...E Além...
Os quais, os quems, os comos e todos as??? devem ser procuradas nas estrelinhas das entrelinhas do trem que Van Gogh pintou...Essa história se faz por si lúcida e louca e quando minha razão maculou a poesia com interrogações chifrudas, Van Gogh me mandou passear de trem...E Além...E Além... E Além...
(Mário Montaut)
domingo, 26 de abril de 2009
ESTRELA TAL (do cd “Bela Humana Raça”)
Há tempos tantos
Desde então lá ela
A singela
Estrela Tal
Quem dormir a noite de enfim sonhá-la
Há de vislumbrá-la
No mapa astral
Na central dos sonhos
Há sinos lentos
Desde então lá ela
Na mandala
Estrela Tal
Quem tiver a graça de ali amá-la
Colhe o arco-íris
E o laranjal
Deuses tão meninos
Vão lá mamá-la
Estrelar o caldo
De um céu mingau
Sua excelência
Cintilância em prece
Cresce Alteza
Sem final
Na espiral dos anos
Há ventos loucos
Desde então lá ela
Se revela
Estrela Tal
Quem bailar o dia de escutá-la
Se regala à luz
Da estrela primal
(Mário Montaut)
LÁ NA PRAIA (do cd “Bela Humana Raça”)
A lua e seu clarão
Ela fez
Xixi na minha mão
Lá na praia
A lua e seu clarão
Ela fez
Xixi na minha mão
Ergui a mão ao céu
Em extrema paixão
Então cantei pro mar
Gozei estrelas
Ergui a mão ao céu
Em extrema oração
Abençoei o mar
Gozei estrelas
(Mário Montaut)
PAUL McCARTNEY: DOS ÓCULOS DE MAGRITTE...
Esse é o velho Paul, já além dos 64 e, parece, de um jeitinho bem diferente da canção (“When I’m sixty four”).
Paul McCartney conheceu René Magritte em meio ao furacão cultural que devastava Londres, em 1965. No ano anterior, abrindo a exposição americana do pintor, disse André Breton: “Tudo quanto Magritte fez representa o culminar daquilo que Apolinnaire descreveu um dia como ‘o verdadeiro senso comum’- ou seja, o dos grandes poetas”.
Viajamos por 64, 65, 66, 67, passando pela explosão beatle, pela morte de Breton, pelo nascimento de Sg. Pepper e pelo falecimento de Magritte. E nos anos 60 (honra ao número) é bom lembrar que o compositor russo Tchaikowsky, aos 5 aninhos, e quase um século antes escreveu, em francês, um poeminha surreal intitulado “A velhice de um homem que fala sonhando na idade de 60 anos”. Lembrar também que em 1965, John Lennon e Paul McCartney compuseram “Norwegian wood”, sobre a qual Paul comentou: “Entrei, e ele (John) já tinha este primeiro verso, que era brilhante: ‘I once had a girl, or should I say, she once had me’. Era tudo que ele tinha, não havia título, não havia nada. Eu disse: ‘Ah, bom, ah-ah-ah, pois é… ’ E a canção se compôs sozinha. Tão logo a gente tenha uma grande idéia, elas tendem a se compor sozinhas, desde que a gente saiba como compor canções”.
Em total afinação com essas palavras de Paul, Ricardo Reis segredou a um tal Pessoa, Fernando:
“…Que, quando é alto e régio o pensamento Súbita a frase o busca E o ‘scravo ritmo o serve.”
Confidências Eletivas!
E já sou mui próximo d’1 suspiro de Goethe, quando ouço triste, compondo-se neste canto, rabiscos misteriosos de assinatura cruel, talvez única verdade, (pessoal?) distendendo-se, alongando-se, espalhando-se num balé de incógnitos signos a verterem todo o sangue que a alma anônima não tem.
(Mário Montaut)
Tom La Plus Que Lente Chovendo Na Roseira
(Mário Montaut)
TCHAIKOVSKY
(Mário Montaut)
FALA MILLÔR FERNANDES
BRINCOS (para Ana Lee)
Vem de tão longe,
E de tão perto, menina
Que eu fico tonto
E fico esperto
Colhendo bem toda essa preciosidade
Ouro do tempo em pó
Na flor do abraço
E cúmplices de velha ciranda
Jóia das ondas que se ouvem na cidade
Olha o presente
Como é bonito:
2, 3 Brincos Do Mar E O Infinito
2, 3 Brincos Do Mar E O Infinito
(Mário Montaut)
FALA STRAVINSKY
Igor Stravinsky- Percepção retrospectiva. A teoria não existe. Pode ser deduzida de certas composições. Ou quando isso não se dá verdadeiramente, ela existe como subproduto, incapaz de criar, ou de justificar a obra.
FALA T. S. ELIOT
Que um século de prudência jamais revogará
Por isso, e por isso apenas, existimos
FALA RENÉ MAGRITTE
FALA OSCAR WILDE
sexta-feira, 24 de abril de 2009
FALA STRAVINSKY
Igor Stravinsky- Não reconhecemos. Nas canções de Webern, encontramos um princípio de ordem completamente novo, o qual, a seu tempo, será reconhecido e convencionado. Mas o dito essencialmente clássico de Valéry não prevê que novas convenções possam vir a ser criadas.
ARVORINHA NO CALVÁRIO
Sede e nuvens de piedade
Céus prometem tempestade
Aos meus sonhos vegetais
Eu tão árvore menina
Abraçada a um homem flor
De Deus nada sei
Mas Jesus
A este amei
E não gosto desses bichos
Que a meus pés
Me chamam cruz
“ARVORINHA NO CALVÁRIO”
De um pintor
Chamado Mário
(Mário Montaut)
LOGARITMO
Que diz ótimo ao átimo
Natal número e vozes
Em cristo lago e uma fátima desejo
No quartinho de despejo
Chuva loura morre em discos
Tubos de ensaio de uma música divina
Que o zero cristalino
Nota a nota vai pingar
N´água da fonte inatural dessas memórias
Plena selva decimal
Árvores de outro quintal
E me persegue o logaritmo assassino
Alga em ritmo marinho
Que quer me crucificar
Eu,
A viúva negra?
Não tenho culpa se jesus quando era jovem
Desprezava arquimedes
E provou minhas entranhas
E desde então vomito aranhas
E aranhas
Nas estrelas do inferno
E no mar que eu vou fumar
(Mário Montaut)
O FRASCO ESCRAVAGISTA
Guardo um frasco escravagista
De poção demodivina
E as escravinhas
São menininhas
Que alegrinhas qual turistas
Vêm em gotas na colher
Da vitamina que me alimenta a beleza
No tesão desta prisão
Que os justos querem demolir
É lua cheia
E eu me penteio na janela
Olho o lago
Xingo o cisne
E tomo mais uma colher
(Mário Montaut)
MULHER, ÉS...
O mistério da aspirina
Que em pó vai na neblina
Curar as gripes do céu
Que espirra fino
E a garoa cai no lago
Molha os burros assustados
E os cisnes convencidos
Oi! Algarismo
Olha a chuva
Eis o batismo
Outro batismo eu só desejo para os lírios
Que num campo sanguinário
Embebedaram-se de preces
Vidros fumê espelham cisne e o laquê
Dos pelos do cãozinho Adolfo
Que sentadinho num vazinho chuviscário
Espuma desejo rosário
Em cravo que espinha o lago
A arquitetura deste reino é tão concreta
As paredes são de nuvens
E as janelas de maçãs
Já roxeadas pelo aumento de salário
Concedido à empregada
Que cozinha os bois do mar
(Mário Montaut)
CARTA AO FRANCIS
Sou meio romântico, sabe? Acredito nas musas, e acho que elas nos visitam com maior freqüência quando acumulamos grandes riquezas espirituais numa ampla cultura viva, o que não vejo por aí. Depois, Francis, “fazer” uma Sinfonia não é façanha nenhuma para um músico do seu tamanho. O Tom também fez Sinfonias. E daí? Duvido que todas juntas valham uma de suas primorosas canções. Outro dia, estava o Arrigo Barnabé na TV Cultura de São Paulo, dizendo que não troca um quarteto de Villa-Lobos por toda a música feita no Brasil a partir da década de 60, inclusive a dele. Essas falas me deixam desconcertado, apoplético; eu que não troco mesmo uma das boas do velho Pixinga por tudo o que do Villa ouvi. O próprio Heitor, num rasgo de sinceridade, afirmou ser “Carinhoso” a música mais linda do mundo.
Sei que estas mínimas da minha vasta ignorância, não resistem a análises mais sérias, mas esta cartinha, Francis, não é tão séria, e cheia de erros, bobagens. Adoro escrever levando em conta o percentual de bobagens que habitam o meu pensamento, botando fé em que a liberdade para dizer uma idiotia é quase premissa de real sabedoria.
Penso agora na Tijuca, Baixada Fluminense, Ipanema, Rocinha, Urca, São Conrado, Leblon, e tremo num êxtase cívico que só o Rio me dá. Sinfonia, se é que o gênero ainda vale a pena, rima melhor com Alta Cidadania, o que ainda não temos no Brasil, mas… me perdoe, me perdoe, por favor: o Rio precisa de uma Sinfonia?
(Mário Montaut)
PÉTALAS DE WEBERN
Havia um Jardim Musical. As flores mais diversas, dispostas com maestria, cantavam ininterruptamente na ordem das orquestras, ao aceno imperativo das batutas espalhadas por todo canto. Já estávamos todos cegos pelo brilho dos metais; surdos para os sons que vêm de dentro; desafinados pelo excesso de regência. Foi quando por uma ironia de Indeus nasceu ali a flor Webern. E o tal jardim implodiu. Despetalou-se.
Hoje estamos entre pétalas, em queda livre pelo abismo. Pétalas, pétalas, pétalas. As bachianas, as wagnerianas, as debussyanas pétalas se cruzam, se chocam, se evitam; ecoam no silêncio abissal longe de todo sol. Pétalas, pétalas, pétalas: os mortos nos saúdam. Alguns de nós pelo buraco negro pescam átomos das despetaladas sem a menor esperança de vê-las restituídas numa sonora e meiga flor de jardim. Pétalas, pétalas, pétalas; Capricho de Morte: Isso é Anton Webern.
E não me digam que suas notas são estrelas formando lentamente uma constelação no céu; lampejos num infinito espaço sereno, ou pior: Música de Invenção (essa não!). Conheço bem a História de Webern, que amo. E não me iludo.
(Mário Montaut)
CAYMMI
DIABOLIR
(Mário Montaut)
A CASA DA DESCONHECIDA
Numa sala de 4 espelhos,
Não há razão para uma janela;
No entanto,
Abro,
O olho oval no vidro;
E vejo:
Repentes de luz amarela,
Mouriscas, vermelhuses;
Quase flores de luz confundindo as pétalas do canteiro;
Um mundo inteiro;
Onde venta em todas elas,
Em Fuga,
Ouço ali suas amigas,
E penso:
Não a conhecem, mal a conhecem...
essas tantas moças,
Rondando a casa,
E ela ainda não voltou.
(Mário Montaut)
quinta-feira, 23 de abril de 2009
MALDITA SEJA A COR DOS SEUS OLHOS
E num funk alegre e irado, mas contrabalançando a porrada desta letra, meu querido amigo e parceiro Roberto Gava canta esta “Maldita Seja A Cor Dos Seus Olhos”. Regozijo no azul tão quente desta paranóia tropical, só podendo por enquanto postar a letra, com baccios de plena ira jocunda.
O espelho vê o mar
Você vem se maquiar
Maldita Seja A Cor Dos Seus Olhos
Nos navios que vão ao longe
(Mário Montaut)
Beatles e Raul: Sonhando Espertamente o Inconcluível
E pelo jeito, mal tinha saído o “Sgt. Pepper’s” quando Raul (ainda “Raulzito e seus Panteras”) fez uma versão de “Lucy in the Sky with Diamonds”, que gravou em um LP de 1967...A letra dos Beatles é esta:
Lucy in the Sky with Diamonds
(Lennon e McCartney)
Picture yourself in a boat on a river,
With tangerine trees and marmalade skies
Somebody calls you, you answer quite slowly,
A girl with kaleidoscope eyes.
Cellophane flowers of yellow and green,
Towering over your head.
Look for the girl with the sun in her eyes,
And she’s gone.
Lucy in the Sky with Diamonds.
Lucy in the Sky with Diamonds.
Lucy in the Sky with Diamonds.
Follow her down to a bridge by a fountain
Where rocking horse people eat marshmellow pies,
Everyone smiles as you drift past the flowers,
That grow so incredibly high.
Newspaper taxis appear on the shore, waiting to take you away.
Climb in the back with your head in the clouds,
And you’re gone.
Lucy in the Sky with Diamonds.
Lucy in the Sky with Diamonds.
Lucy in the Sky with Diamonds.
Picture yourself on a train in a station,
With plasticine porters with looking glass ties,
Suddenly someone is there at the turnstyle,
The girl with the Kaleidoscope eyes.
O caos hipercriativo da contracultura nas cabeças de John e Paul: Infância, árvores de tangerina, céus de marmelada, LSD, uma garota com olhos de caleidoscópio, táxis de jornal, flores de celofane, um provável desenho de Julian Lennon, aos cinco aninhos, com o mesmo título da obra, fontes, pontes, Lewis Carroll...Raul canta diferente:
Você Ainda Pode Sonhar
(Raul Seixas-Lennon-McCartney)
Pense num dia com gosto de infância
Sem muita importância procure lembrar
Você por certo vai sentir saudades
Fechando os olhos verá
Doces meninas dançando ao luar
Outras canções de amor
Mil violinos e um cheiro de flores no ar
Você ainda pode sonhar
Você ainda pode sonhar
Você ainda pode sonhar
Feche seus olhos bem profundamente
Não queira acordar procure dormir
Faça uma força você não está velho demais
Pra voltar a sorrir
Passe voando por cima do mar
Para a ilha rever
Vá saltitando sorrindo a todos que vê
Você ainda pode sonhar
Você ainda pode sonhar
Você ainda pode sonhar
Bela sacada do Seixas. Ele apenas tenta nos abrir os canais do Sonho. Convida-nos à Infância; esse tempo, esse lugar. Imagens, imagens mesmo, só as meninas dançando ao luar, os mil violinos, um vôo por cima do mar, uma ilha a rever. O resto é convite. Que cada um faça a sua viagem e veja, ouça, o que puder. Sugestão Libertária.
Já nos versos de John e Paul, mais de John, parece (e curioso, isso), as imagens universais, arquetípicas, lisérgicas, não deixam de se constituir, pela excelência das intenções, numa poética totalitária. A universalidade imagética vira despotismo num sonho onde você já não pode sonhar. Sonham os Beatles. Você se deleita acompanhando os viajantes.
Agora fico pensando. Na levada musical beatle, a tirania de tantas imagens impostas me liberta pelo delicioso matrimônio daquelas palavrinhas caindo tão bem na música. Felizmente subjugado, prefiro ouvir os Beatles em pura contemplação, e por algum mistério, talvez, não consiga viver intensamente aquela proposta de liberdade um pouquinho flácida do Raul. Talvez. Mas a encompridar adentraríamos questões infinitamente sem resposta. Prefiro espiar Borges e Pessoa debruçados na canção, sonhando espertamente o inconcluível.
(Mário Montaut)
terça-feira, 21 de abril de 2009
Embora sem causar nenhum grande “estrago no jardim da beleza”, parece que Millôr Fernandes, tal o Príncipe do “Conto” de Rimbaud, também deu milhares de trepadas. Reza a lenda que certa vez Tom Jobim lhe disse: “Cada canção que eu fiz, Millôr, foi uma garota que eu não comi”. E não menos queixoso(rs), Millôr teria lhe respondido: “Puxa Tom, e cada garota que eu comi foi uma canção que eu não fiz”(rsrs). Para além destas eróticas coincidências, tudo leva a crer que Millôr também se encontrou com o Gênio deste “Conto”, e por caminhos vertiginosamente opostos, tirou conclusão semelhante, formulada de modo lapidar.
CONTO
Um Príncipe se envergonhava porque sempre se dedicava apenas à perfeição das generosidades vulgares. Ele previa espantosas revoluções do amor, e suspeitava suas mulheres de serem capazes de algo melhor que uma tolerância ornada de céu e de luxo. Queria ver a verdade, a hora do desejo e da satisfação essenciais. Fosse isto ou não uma aberração de piedade, ele o quis. Pelo menos, possuía um poder humano bastante largo.
Todas as mulheres que o tinham conhecido foram assassinadas. Que estrago no jardim da beleza! Debaixo do sabre, elas o abençoaram. Ele não encomendou novas mulheres. – As mulheres reapareceram.
Matou todos aqueles que o seguiam, após a caça ou as libações. – Todos o seguiam.
Divertiu-se estrangulando os animais de luxo. Mandou incendiar os palácios. Arremessava-se contra as pessoas e as esquartejava. – A multidão, os telhados de ouro, os belos animais existiam ainda.
Pode alguém extasiar-se na destruição, rejuvenescer-se pela crueldade! O povo não murmurou. Ninguém ofereceu o concurso de suas vistas.
Uma noite, ele galopava orgulhosamente. Um Gênio apareceu, de uma beleza inefável, inconfessável mesmo. De sua fisionomia e de seu aspecto sobressaíam a promessa de um amor múltiplo e complexo! de uma felicidade indizível, insuportável mesmo! O Príncipe e o Gênio se aniquilaram provavelmente na saúde essencial. Porque não morreriam eles disto? Juntos, então, eles morreram.
Mas esse Príncipe faleceu, em seu palácio, numa idade comum. O Príncipe era o Gênio. O Gênio era o Príncipe.
Falta ao nosso desejo a música erudita.
(Jean-Arthur Rimbaud)
“A sabedoria, se é que ela existe, serve quando muito para que a gente adivinhe qual vai ser a nossa próxima bobagem.”
(Millôr Fernandes)
(Mário Montaut)
domingo, 19 de abril de 2009
UM BOLO NO JUÍZO
de um bolo de chuvas
com o sereno açúcar das trevas mais puras,
confundia o paladar,
coibia o Juízo Final,
adiado pelos calafrios, risadas...
Indeus foi confeiteiro por 1 dia;
mas a conversa se animou pr’além das 1002 noites,
e ainda vai dar o que cantar.
(Mário Montaut)
BELA HUMANA RAÇA
(Mário Montaut)
(do cd “Bela Humana Raça”-selo Dabliú)
DIVINO SÓ
Benzo a bonança e cem mil vulcões
Dragões e corvos na minha mão
(Mário Montaut)
(do cd “Bela Humana Raça”-selo Dabliú)
CHORO PARA TOM(Walter Garcia)
(Uma canção de Walter Garcia)
EXTRAZUL
O estruturalismo é inevitável; de certo modo. Canção é estrutura que se habite, e nela adentro, vivenciando “restos de mar azul”, “sombra de céu azul”, “boca a espumar limo e areia”, “guimbas de mar azul”, “laje de céu ruindo azul”. Habito as harmonias, os perigos, a bela concisão melódica, a saudade, o presente fértil do nostálgico azul jobiniano: Político, estético, filosófico. Não só de sombra. Também de aura:: extrazul, indecifrável, e já sem rigor estrutural no canto ouço, indefinível qual o Rio de Paulinho Da Viola, o extrazul::: perfeita, eterna, misticamente habitável.
“A Música é para levar a Deus”, afirma Tom Jobim. “Poesia é voar fora da asa”, verseja Manoel De Barros. “Fica faltando a melodia”, diria Luiz Tatit. (E a voz de Ana Lee, palpito eu).
(Mário Montaut)
CONVERSA COM MÁRIO MONTAUT
Maria Estela Guedes - Mário, explica-me como descobriste o poeta Herberto Helder, aí na grande ebulição de São Paulo. Estão muitos livros dele publicados no Brasil, ele é conhecido na tua roda de artistas?
Mário Montaut - Ouvi aquele nome: Herberto Helder. Nome que muito me agradou, suscitando vigor e doçura. Neste exato momento revivo tais signos, e a revivência confirma as primeiras impressões. Lembro de Rimbaud, de André Breton. "Uma Temporada No Inferno & Iluminações" e "Arcano 17" se encontraram comigo muito antes de eu começar a lê-los. Magnetismo Puro. Conhecia alguns textos de Herberto Helder, mas para o mergulho real em sua poesia foi decisivo o evento realizado em agosto de 2005 em São Paulo, com suas preciosas reflexões e a inspiradíssima declamação de Cláudio Willer. Tudo isso se deu pouco antes do lançamento de "Ou O Poema Contínuo", pela editora "A Girafa". Desejo que esse músico poeta venha a ser melhor conhecido entre os artistas de São Paulo.
MEG - O que te agrada nele?
Mário Montaut - O rigor, a inspiração, a violência, a delicadeza, o ímpeto de tantos pensamentos só concebíveis e realizáveis em Grande Música.
MEG - És compositor, cantor e poeta. Os teus CDs, publicados aí no Brasil, encantam-me, porque justamente fazes uma música encantatória, às vezes doce como o mel, que por isso não deixa de ter relações com Herberto Helder. Outras similaridades existem, por exemplo na tendência para a constante subversão. De onde vos vem a inspiração? Daquilo que vos incomoda, no sistema social, externo, ou de dentro, das vossas próprias paixões?
MM - Estela, suas palavras me contentam e me remetem ao lúdico, acertando em cheio. Com tudo o que vivo, eu gosto é de brincar, de "fazer arte", essa coisa de moleque. Então, acho que sou muito mais "arteiro" que artista(rs). O imprescindível mesmo, para mim, é continuar "fazendo arte", e arcar com todas as consequências dessa arte irrefreável.
MEG - A poesia de HH é dominada pelo canto, pela música, ele fala muito do sopro, põe o canto acima de tudo na sua escala de importâncias. Ele chega a dizer que morreria pela música, no poema que te deixo para exemplo. Qual é a natureza dessa música? Estamos a falar de versos, com ou sem métrica, ou de assunto totalmente diverso? Achas o poema facilmente musicável? Tu, que és músico, diz-me que música é essa de que fala Herberto Helder.
Ninguém tem mais peso que o seu canto.
A lua agarra-o pela raiz, arranca-o.
Deixa um grito que embriaga, deixa sangue na boca.
Que seja a demonia: - a arte mais forte de morrer pela música,
pela memória.
MM- "Palavra, não de fazer literatura, palavra, mas de habitar, fundo, o coração do pensamento, palavra". Esses versos da canção "Uma Palavra", de Chico Buarque De Holanda, nos perguntam: E poderia o pensamento de Herberto Helder não cantar? Obrigado pelo poema, Estela, e por ora só posso lhe dizer que ele é música plena. Beijos do Mário.
JOHN LENNON E AS TENTAÇÕES DA LUZ
(Mário Montaut)
DULCINÉIA AMORES
(Brau Mendonça-Mário Montaut)
Canto a reza à velha maneira
se alguém na trova esqueceu
Dulcinéia
eu, Dulcinéia
Cada lembrança no solo sagrado
por mim se faz escutar
eia! eia!
quanto moinho
Sou Dulcinéia Amores
sempre à minha janela
e vou por outro caminho
quando me ponho a cantar
Quantos amores no fim dessa guerra
hão de saber quem sou eu?
Dulcinéia
eu, Dulcinéia
Vida esquecida no fio da meada
o tempo há de lembrar
venha! venha!
velho menino
Sou Dulcinéia Amores
sempre à minha janela
e enxergo mais um pouquinho
quando me ponho a cantar
CÉU DE HOJE
(Mário Montaut)
BANQUETE
e vós que ouvis o canto ovil do coração do furacão que vira a mesa do banquete na piscina...
abutres nadam no trigal de nervos olhos no céu cinza em desovas ovas ovas aos avôs e às avós...
e vós que ouvis o canto ovil do coração do furacão que canta a história do banquete na piscina...
e Vivas!!! E Vivas!!! E Vivas!!!
aos Convivas
que ali à beira da piscina em tempestade triunfal serão julgados pelo crime réu a réu...
Ah! sim...
não façam mais banquete à beira da piscina em dia assim.
e olhem:
vêm lá do céu
o Dr. Trigoréu e o Dr. Vinhoréu e o Dr. Raioréu e o Dr. Ventoréu e o Dr. Caviaréu e o Dr. Nervoréu e o Dr. Olhoréu e o Dr. Cinzaréu e o Dr. Ovaréu e o Dr. Licoréu e o Dr. Aguaréu e o Dr. Lomboréu e o Dr. Taçaréu e o Dr. Garforéu e o Dr. Molhoréu e o Dr. Corvoréu e o Dr. Uvaréu...
(Mário Montaut)
CLARÕES
Cada clarão
É como um dia
Depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
Uma passagem subterrânea une todos os perfumes
A mulher que lá entrou um dia
Tornou-se tão brilhante que não a vi
Com estes olhos que a mim mesmo viram arder
Tinha já a idade que hoje tenho
E vigiava-me vigiava o meu pensamento como um guarda-noturno numa fábrica sem fim
E como tudo já foi dito
Querido Augusto De Campos
Apenas o acompanho
Nesta aventura
Com Chico Buarque
E André Breton
Antes a vida
As vitrines
As atitudes espectrais
As catacumbas
(Mário Montaut)
MÚSICA DE NATAL
Lautréamont
Não acredito que a matemática seja o resultado de uma atividade criativa da parte das pessoas, que tenha sido inventada. Ela se mantém coesa com uma integridade que ultrapassa as capacidades da curta história da consciência humana...As cariadas teorias matemáticas não passam de impressões de viajantes que regressaram de uma terra distante...A paisagem matemática foi extensamente percorrida, mapeada, vivenciada e utilizada no mundo biológico muito antes que a espécie humana tivesse evoluído. Qual é o papel da matemática na coevolução da alma do mundo e da consciência humana?
Ralph Abraham
A raça humana é
uma semana
do trabalho de Deus.
Gilberto Gil
Essas palavras encontram Johann Sebastian Bach, que em “Jesus Alegria Dos Homens”, de 3 notinhas em 3 notinhas, vai aclarando, entre outras coisas, o Mistério Da Santíssima Trindade, que graças a Vinícius de Moraes pode ser cantado também neste natal.
(M.M.)
POEMAS DA ALMA DO MUNDO
Terence McKenna
Há em todo grande poeta um núcleo noturno inquebrantável.
André Breton
(M.M.)
JARDINS FLORÍBULOS
(letra de uma canção a ser gravada)
Los los los los
Jardins floríbulos
Dos negros ídolos
E verdes óvulos
Dois doidos índios apaixonados
Há séculos e séculos
Los los los los
Jardins floríbulos
Céu e oráculos
Sol e tentáculos
Dois doidos índios apaixonados
Há séculos e séculos
Doidos índios
Idos os dois
Los ioiôs
De dios
E adios
E as crioulas
E as lantejoulas
E as maçãs do amor
E o mar
(Mário Montaut)
sexta-feira, 17 de abril de 2009
FLORENÇA
Das pétalas e músculos,
Para o bem de uma cidade.
Isso me contam essas moças...
Quando seus filhos construiram
Pontes,
Catedrais,
Jardins suspensos.
Um mundo para os lábios.
Um mundo para os lábios.
Insensatez?
Num beijo a vida assim se fez.
(Mário Montaut)
BRINCOS
(Mário Montaut, Floriano Martins e Ana Lee)
O mar não usava brincos nem era o Mário infinito ainda(rs). O Cláudio Willer me apresentou ao Floriano Martins, ali no Conjunto Nacional da Avenida Paulista. Lançamento do livro "Cinzas do Sol", no ano de 2001. Nesse encontro estavam também Graco Braz Peixoto, Mona Gadelha e Augusto Contador Borges, recitando poemas de Floriano. Foi o início de nossa amizade e de nossas parcerias, que logo engendraram sete composições inspiradas nos temas da peça "Sombras Raptadas", quatro delas incluídas neste disco. Vieram outras canções, novas parcerias e amizades. Ana Lee, sempre presente e cada vez mais envolvida na trama, cantou grande parte das músicas, fez vários duos comigo. Juntos, Ana e eu musicamos a letra "De todo coração", que o Floriano escreveu para nós. E tantas aventuras acontecendo nesse tempo. A feitura das canções, as infinitas horas de estúdio, as ilustrações e colagens do encarte , a constante troca de idéias, por e-mails, sempre, e na cidade de São Paulo, onde Floriano, Ana e eu tivemos a alegria de nos perder em horas de papo, reflexões, cinemas, teatros, tudo regado com bom vinho e excelente humor. Por intermédio do Floriano, tive a felicidade de compor com a Estela, a Rosa Alice e a Helena, essas poetas portuguesas que me deram tanto prazer. Por ora não conseguiria mesmo falar num outro tom, que não o da amizade, cumplicidade e paixão, que resultaram neste álbum. “2, 3 BRINCOS DO MAR E O INFINITO...” Em ciranda emergiram as jóias brincando na superfície d´água, marinha, e no horizonte o mar...e o infinito. Roberto Gava, Regina Hasegawa, Maria Estela Guedes, Rosa Alice Branco, Helena Vasconcelos, Brau Mendonça, Ozias Stafuzza e muitos, muitos se juntaram ao trio que assina a obra. Delicada tal o buraquinho que a menina faz na orelha para estrear o primeiro brinco. Impetuosa qual o mar. Cristalina aqui, obscura ali. Política e esteticamente incorreta, às vezes. Cânticos. Da paixão e outras graças. Por tudo isso e muito mais um disco quase genial(rs). E a razão é toda do Ozias ao dizer que só acredita no Mário infinito quando eu der um show de brincos. Brinco de beijos!!!
(Mário Montaut)
DE FERRO
(Mário Montaut)
DA LÍNGUA DO ESPÍRITO SANTO
Ninguém mais ergue a pia para uma simples maionese.
Hoje,
Hoje mais...
Que gente em compotas as coisas reclamam,
Das embalagens de vidro sejam de plástico e seus sustentáculos mobiliários
Se de madeira ou mármore, as pessoas se acozinham ou embanheiram;
Não mais almoço banho mãos lábios da pura ritualística apropriada,
Onde luzes erram nos tetos,
Sejam de lâmpadas, ou frio vidrilho de reflexos amantes
Hoje não mais postes se consideram os lúciferes do mundo,
Lúcidos cimentos são as estruturas prediais,
Asfaltadas águas borbulhando as revoltas submersas pois,
Não mais, nem menos Hoge de jentes.
Fluxo extraordinário das sensações contradizendo o outdoor,
E até mesmo os Bancos Hellman´s ou Lux de escarola entre doze verduras, dito isto em manjar de estrelas,
E mesmo as negras são opacidades translúcidas dando muita risada à luz de espadas, punhais de esfaquear suflês,
E os pobres garfos da cobertura...
Ai edifícios
Que se na base dão ganchos e colher,
Há que saborearmos ex-mundos, ultra-mundos Mundos Mundos
Com a força aureolar,
Genicultora,
Próspera,
Doce,
Áspera,
Salivante,
Da língua do Espírito Santo.
(Mário Montaut)
SABÃO DE CÔCO
Bem como os pentes têm nos dentes guilhotinas
Tudo o que digo e que não ligo à razão
Tem mais verdades do que a Bíblia e o Alcorão.
(Mário Montaut)
VAI PASSAR
(Chico Buarque e Francis Hime)
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Dormia a nossa pátria mãe tão distraídasem perceber que era subtraídaEm tenebrosas transaçõesSeus filhos erravam cegos pelo continente,levavam pedras feito penitentesErguendo estranhas catedraisE um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugazUma ofegante epidemia que se chamava carnaval,o carnaval, o carnavalVai passar...
Chico, mas que fome de Prometeu, e que terrível Jocasta Adormecida, sonhando sóis e luas, a colidirem, a eclipsarem, na cegueira de tantos Édipos errantes da Brasília grega e mascarada de mil carnavais; e que perfídias, que onírico apedrejamento nas tão poucas linhas de sua Grécia Brasilis, onde já sambo e ofego desde o Natal.
(Mário Montaut)
EU CHEGUEI LÁ (A Razão De Vinícius)
(Dorival Caymmi)
Vinícius De Moraes falou que as grandes palavras da Poesia ocultam verdades que descobrimos mesmo é num sambinha. Neste maravilhoso esquecimento de Dorival a razão de Vinícius. As lindas palavras de amor. Shakespeare lembrou. Rilke lembrou. Dante lembrou. Vinícius lembrou. Caymmi foi sábio o bastante para esquecer. E quando esquece, como a gente lembra...
(Mário Montaut)
A CANÇÃO DA FEMEOCRACIA
E machos em cachos
Macheiras que floram
Na femeocracia
A cria macia
Da prima costela
É ela é ela
Que eu falo poeto
Quando eu falo nela
Eu falo em vocês
E as três primaveras
Se abrem de vez
(Mário Montaut)
PÉS, PIANO E JAZZ
PÉS, PIANO E JAZZ
Teus lindos pés
Ao piano
Me levam
Em suave jazz
No teclado
A teus pés
Teus lindos pés
Ao piano
Me levam
Em suave jazz
No teclado
A teus pés
Tão lindos dedos de teus pés
Em flor
De jaz
Piano
E sonho
Louco
Indo ao céu
Tão lindos dedos de teus pés
Na flor
Do jazz
Piano
E sonho
Louco
Indo ao céu
Flores e jazz pés e piano me levam...
Flores e jazz pés e piano me levam...
(Mário Montaut)
(Mário Montaut)
A composição ficou muito bonita, embora essa temática não tenha lá aquela cara de canção. Parece outra coisa(rs). Mas acho que rola. Num vídeo, em DVD, imagino cenas bastante propícias. Creio que fique interessante. Beijos do Mário a todos!!!
CASTELO
(Mário Montaut)
Do álbum “Bela Humana Raça”
Belo...
o castelo amor dentro da gente
mente amora dente sol poente
tempo vira espaço a transgirar
Vai sim...
vicking céu safira espada guerra
erra e cirandeia toda era
vida jorra já no aqui lutar
Passam...
nuvens clãs atlântidas celestiais
Bailam...
mães do mar cantáridas azuis demais
Maré...
pescadores bares cais altares
praia odores mares sais luares
branca areia alegre navegar
Raio...
Que transcende a flor da primavera
tranquiliza o caos na infinda espera
vem bem-vinda ponte sol-lunar
Brilham...
nautilus florido arpão de ned land
Ventam...
sé moscou norwegian wood em id land
Hum...Vida!
Porque te quero mais
Hum...Vida!
Porque te quero mais
Tudo à tona
Já detona
Dona Vida quero mais e mais
Maratona
Brincalhona
Dona vida quero mais e mais
Toda pedra, todo brilho
nesse garimpeiro tanta maravilha
toda ilha, todo peixe
nesse marinheiro tanta maravilha
Astros...
passam rastros ficam reticências
sons neons vampiras consciências
sugam sangue azul clarões do mar
Asas...
brisas madrigais pelas janelas
puros moços raras moças belas
doce cântico inocência amar
(Mário Montaut)
AS GRAÇAS DE PICASSO
e arregalam o olho mediterrâneo.
Sopram um hálito vitória-régia,
e cirandam baías da Grécia cantando finos corais e cristais de agudo sereno.
As mulheres de Picasso mascarando a beleza,
me escutam com a orelha em concha que busquei no mais profundo dos mares.
Acolhem estrelas de Chopin na suspeita feiúra,
e ocultam o anel que enlouquece ao primeiro vislumbre.
As moças de Picasso conhecem o fogo da solidão,
a lágrima prenhe da música que não soou.
E gargalhando azuis de Rafael,
consolam Helena,
troçam do céu.
(Mário Montaut)
A MÃO FELIZ
“O vento lúcido traz-me o perfume perdido da vida” (André Breton- verso do poema “Fata Morgana”, concluído em Marselha, em dezembro de 1940).
Chico Buarque e André Breton nos diálogos da palavra com a luz e o vento pelo tempo. Com certeza, versos escritos pela mão feliz. “A Mão Feliz”? Não enxergava a mão feliz, até que centelha dessa realidade me fosse dada já no título da obra de René Magritte, que sem dúvida, mais que título, é poema, e com a imagem do piano aberto e envolvido pela aliança amorosa, compõe naquele teclado, a música das esferas, da qual muitos duvidam, mas eu juro que ouço. Quando ao milagre, a mente cala, e o ser inteiro agradece.
(Mário Montaut)
Paul McCartney & Chico Buarque: sonhos sonhos são
No imaginativo jogo proposto por Caetano, lanço como exemplos gigantescos de artistas intensamente vinculados à infância os Beatles, mais especificamente John Lennon e Paul McCartney, e Chico Buarque de Hollanda. Canções como “The Fool on the Hill”, “Maninha”, “Strawberry Fields Forever”, “João e Maria”, a versão dos Saltimbancos, “Penny Lane”… são tantas e tantas criações arquetípicas, fabulosas! Tem coisa que parece música de criança mesmo. Lembro do Caetano dizendo que “A Banda” parecia “obra de um moleque”, se comparada a “obras primas” como “Pedro Pedreiro” e “Sonho de um Carnaval”. Compreendo-o perfeitamente, mas bem lá dentro sinto-me incapaz de conceber tal antítese. “A Banda” é coisa de moleque mesmo. Até a Clarice Lispector achava isso, mas sob outros pontos de vista e ouvido.
Agora, que essa questão das idades artísticas dá um pano pra manga, dá. Chico, John e Paul fizeram essas canções na juventude e maturidade. E aos 16 anos Paul McCartney martelando o velho piano de sua casa paterna cantarolou a melodia de “When I’m Sixty Four”, que o Paul disse tratar-se de uma música inspirada pelo medo da velhice. E o romântico Tchaikowsky escreveu, aos seis anos, em francês, um poema intitulado “A Velhice de um homem que fala sonhando na idade de 60 anos”. Essa dança de idades no tempo nos remete fortemente a Jorge Luis Borges, o bruxo Borges, cujo conto “O Imortal”, pode ter sido uma das fontes de inspiração da bela “O Homem Velho”, de Caetano, que homenageava Chico que, então pelos 40, já havia feito “O Velho” aos 20 anos, e… um amigo da Net disse que “Penny Lane” também era sobre o medo da velhice.
As analogias entre Chico e Paul vão longe, e em aspectos que podem passar despercebidos. São dois dos maiores melodistas e letristas da canção, em todos os tempos. Chico, dono de uma erudição considerável, em instante algum permite que esta turve sua obra, cristalina, concisa, sem adereços desnecessários, efeitos que ressaltem da poética ou da música em detrimento da composição no todo. Paul, sempre distante de qualquer intelectualidade, fez de sua imaginação prodigiosa uma aliada implacável, que dá a muitas de suas composições um teor criativo inapreensível por qualquer análise estruturalista grosseira, dessas que infelizmente primam em nossa crítica. “Yesterday” é um exemplo disso. A música, diz Paul, “parece ter vindo de um sonho, quando numa manhã saltei para o piano e a música parecia já ter sido feita há muito tempo”. As três primeiras notas de “Scrambled egg’”, (palavras com que ele cantarolava a melodia) e as três sílabas de “Yesterday”, formam um dos encontros mais fascinantes que eu conheço. A nostalgia artística pode ter outros nomes, expressões, mas em “Yesterday” contemplou a perfeição. “Eleanor Rigby”, “The Long and Winding road”, “Let it Be”, “Hey Jude”, “Hello Goodbye”, são de um refinamento, de uma sutileza estrutural, muito além das possibilidades analíticas até hoje demonstradas pelo estruturalismo. Chico, com aquele jeito direto de falar, tocou nesse ponto de modo visceral, e em palavras tão simples que passaram batidas: “o crítico critica a letra, agora a música, a música com a letra ele não critica”, disse numa de suas entrevistas. A percepção das estruturas mais fantásticas só é possível com a abertura de todos os sentidos, de todo o intelecto, de todo sentimento. A canção “Fixing a Hole” me fez pensar nas questões de mundo interior e exterior, Princípio de Prazer e Princípio de Realidade, delírio e lucidez, e tantos outros conflitos, numa intensidade que poucos ensaios filosóficos, ouso dizer, chegaram perto. E tudo está ali, entre as sílabas, as notas, entonações criadas com mais filosofia do que muito filósofo possa conceber.
A contracultura serviu a Paul, como a terrível ditadura militar a Chico. Ambos extremamente ligados a tudo o que acontecia na época, foram afetados de muitas maneiras, porém, o que de fato imortaliza esses trabalhos é a dimensão mitológica a que foram alçados pelos seus contextos políticos, econômicos, culturais. Com todos os ecos políticos ainda ouvidos em “Construção”, ela mais me parece hoje um dos Cantos do Inferno que Dante Alighieri não escreveu. “Apesar de Você” é, sem dúvida, um hino de resistência perene, por tratar da revolução eterna, de um ponto de mutação desde sempre inevitável. Os exemplos se estenderiam ad infinitum, e sempre na temática do tempo. Lembro de “Valsa Brasileira”, letra de Chico para música de Edu Lobo, onde novamente somos reportados a Borges, pela densidade, síntese e discrição metalingüística quase absoluta: ...e pela porta de trás/ da casa vazia/ eu ingressaria/ e te veria/ confusa por me ver/ chegando assim mil dias antes de te conhecer. E o poeta chega à sua musa, que é também a valsa brasileira, revisitada pelos versos do seu imenso dom de sonhar.
Na pré-adolescência, quando comecei a fazer música, tinha sonhos com os Beatles. Num deles, o quarteto aparecia de terninho numa arena de Tokyo, trocando palmadinhas e cantando “A Noite dos Mascarados” do Chico. Em japonês. Num outro sonho (este, recorrente) eu estava sempre numa loja labiríntica à procura de um disco dos Beatles que nunca existiu. Os elementos oníricos obviamente variavam bastante, mas sempre acabava por encontrar um LP, e na capa eu via os quatro numa praia. Começava por ouvir o mar, depois um som tipicamente beatle que ia se desdobrando em sonoridades próximas a sons que eu comporia anos depois. Sonhos com músicas novas misteriosamente ocultas dentro de um disco clássico onírico, talvez um arquétipo paralelo àquele de “O Imortal”, onde Borges passa a relatar um manuscrito escondido pelo protagonista no último tomo da Ilíada, de Pope. Sonhos, sonhos são… como diria o Chico. E para terminar relato um pequeno sonho musical, que originou uma versão da música. Ainda a estou fazendo. O sonho:
In Penny Lane there’s a barber showing photographs. Agora os vejo: Borges, Milton Nascimento, João Cabral, Gil, Shakespeare. Agora ele me mostra as fotos de toda cabeça que teve o prazer de conhecer: Magritte, Breton, Caymmi, Augusto de Campos, Caetano. Todos estiveram lá. E passaram na barbearia. Todos! E mantiveram segredo. O que haveria de tão inconfessável nessa rua musical da Infância? Agora os vejo: Ezra Pound, Drummond, Klimt, Pessoa. Um som. E olha lá, os ilustres fotografados saindo numa enorme banda. Com Pixinguinha, Webern, Cartola, Debussy, Chico. Dobram a curva e somem. Cantando coisas de amor.
(Mário Montaut)
DO LIVRO SOL
do inexprimível
coração
da borboleta
soará
na primavera
se esta era
for um Sim
E Abra-te Livro E Abra-te Livro E Abra-te Livro Sol
(Mário Montaut)
DO LIVRO SOL
Das Letras com que Einstein escreveu
o poema original
ópio de estrelas
em festa
numa cesta
de Natal
(Mário Montaut)
DO LIVRO SOL
cai na Europa
a lágrima mescalina
e o presépio
se orvalha
em garoas africanas
(Mário Montaut)
DO LIVRO SOL
na prateleira
o Livro Sol
que explodiu
a República
dos Sonhos
na ciência da amora
(Mário Montaut)