sexta-feira, 8 de maio de 2009

LEITE DERRAMADO POR CHICO BUARQUE

Leite derramado se toma do chão; com os lábios, línguas, ouvidos e olhos, molhados só de leite, derramado; em nutriente deleite. Já o cristal partido, não se junta os caquinhos, antes, mistura-se com boa pressão de punho e dedos; e a sangria na palma da mão também é vermelho deleite que extasia, e revela o antigo fractal em toda sua potência reflexiva. Até porque não falo no novo romance que me deram e ainda não principiei. E minha é a fruição de “Carioca” e de “Subúrbio”, as duas pequeninas jóias de Chico, cujo extravio atesta o óbito da alma brasileira. Não se iludam pelo mau-juízo que faço dos que não ouviram essas duas canções. Ouço-as por inteiro, e não indago o enigma que une frente e verso de um Rio musical; belo par de delicadezas perdidas. Pense o que entender, enquanto fico ali de quatro, sedento, sem pudores ou pedir licença; e o público vai às livrarias.

(Mário Montaut)