sexta-feira, 24 de abril de 2009

CARTA AO FRANCIS

Meu caro amigo, me perdoe, por favor, mas: o Rio precisa de uma Sinfonia? No dia a dia de suas mazelas, e de sua beleza infinita, o Rio se afina com uma Sinfonia? Ouvi a “Sinfonia Do Rio De Janeiro De São Sebastião” uma única vez, pela tv, impressionado com o entusiasmo da performance coral, orquestral, porém, nada que me despertasse o desejo de segunda audição. E daquelas primeiras impressões, palpito: “Corcovado”, “Wave”, “Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida”, “Estação Derradeira”, “Sabiá”, “Garota De Ipanema”, “Lygia”, “Samba Do Avião”, é que traduzem a Cidade Maravilhosa; e tenho pelas graças citadas o mesmo fascínio e devoção que sinto por Bach, Debussy, Tchaikowsky, Chopin, Webern, Stravinsky e muitos outros da “Grande Música”.
Sou meio romântico, sabe? Acredito nas musas, e acho que elas nos visitam com maior freqüência quando acumulamos grandes riquezas espirituais numa ampla cultura viva, o que não vejo por aí. Depois, Francis, “fazer” uma Sinfonia não é façanha nenhuma para um músico do seu tamanho. O Tom também fez Sinfonias. E daí? Duvido que todas juntas valham uma de suas primorosas canções. Outro dia, estava o Arrigo Barnabé na TV Cultura de São Paulo, dizendo que não troca um quarteto de Villa-Lobos por toda a música feita no Brasil a partir da década de 60, inclusive a dele. Essas falas me deixam desconcertado, apoplético; eu que não troco mesmo uma das boas do velho Pixinga por tudo o que do Villa ouvi. O próprio Heitor, num rasgo de sinceridade, afirmou ser “Carinhoso” a música mais linda do mundo.
Sei que estas mínimas da minha vasta ignorância, não resistem a análises mais sérias, mas esta cartinha, Francis, não é tão séria, e cheia de erros, bobagens. Adoro escrever levando em conta o percentual de bobagens que habitam o meu pensamento, botando fé em que a liberdade para dizer uma idiotia é quase premissa de real sabedoria.
Penso agora na Tijuca, Baixada Fluminense, Ipanema, Rocinha, Urca, São Conrado, Leblon, e tremo num êxtase cívico que só o Rio me dá. Sinfonia, se é que o gênero ainda vale a pena, rima melhor com Alta Cidadania, o que ainda não temos no Brasil, mas… me perdoe, me perdoe, por favor: o Rio precisa de uma Sinfonia?

(Mário Montaut)