domingo, 19 de abril de 2009

JOHN LENNON E AS TENTAÇÕES DA LUZ

As tentações da luz estão aí a nos rondar. Fazem sons e nos confundem. Richard Wagner nos deu muita luz. Luciferiana, como de outras fontes, luciferiana a música de Keith Richards e Mick Jagger. Mesmo Bach tomou luz em excesso. Se na Tocata E Fuga Em Ré Menor foi o “Quase-Lúcifer”, em alguns instantes dos Concertos De Brandemburgo nos deu de beber, como diria Walter Franco, mais de um segundo de Jesus Cristo. A luz e suas infinitas gradações teve excelente apreensão na mística de Jacob Boehme, nas cores de Vincent Van Gogh e na profética película de Martin Scorcese, “A Última Tentação De Cristo”. John Lennon não foi um gênio musical, como o foram Tom Jobim e Paul McCartney. Foi um místico atormentado pelos constantes assédios da luz. E muitas vezes sucumbiu a ela com tremenda musicalidade. Seja quando em “Help”, Gaia estremeceu de júbilo ao amoroso clamor de socorro, ou quando pós Arthur Janov, saltou naquele perfeito giro do grito primal que iluminou o fundo do nosso pânico (“well, well, well”), Lennon, mais do que músico, foi um homem atento aos urgentes apelos da suprema luz, e mais de uma vez cedeu a ela. Isso não é pouco; hão de concordar os maestros. Produziu centelhas que bem podem nos elevar a altares mui acima do juízo final. “Instant Karma” que o cante, na violência sublime daquela prova de luz: “well, we all shine on, like the moon, like the stars and the sun”.

(Mário Montaut)