sexta-feira, 24 de abril de 2009

PÉTALAS DE WEBERN

PÉTALAS DE WEBERN
Havia um Jardim Musical. As flores mais diversas, dispostas com maestria, cantavam ininterruptamente na ordem das orquestras, ao aceno imperativo das batutas espalhadas por todo canto. Já estávamos todos cegos pelo brilho dos metais; surdos para os sons que vêm de dentro; desafinados pelo excesso de regência. Foi quando por uma ironia de Indeus nasceu ali a flor Webern. E o tal jardim implodiu. Despetalou-se.
Hoje estamos entre pétalas, em queda livre pelo abismo. Pétalas, pétalas, pétalas. As bachianas, as wagnerianas, as debussyanas pétalas se cruzam, se chocam, se evitam; ecoam no silêncio abissal longe de todo sol. Pétalas, pétalas, pétalas: os mortos nos saúdam. Alguns de nós pelo buraco negro pescam átomos das despetaladas sem a menor esperança de vê-las restituídas numa sonora e meiga flor de jardim. Pétalas, pétalas, pétalas; Capricho de Morte: Isso é Anton Webern.
E não me digam que suas notas são estrelas formando lentamente uma constelação no céu; lampejos num infinito espaço sereno, ou pior: Música de Invenção (essa não!). Conheço bem a História de Webern, que amo. E não me iludo.

(Mário Montaut)