terça-feira, 6 de abril de 2010

Paraísos da linguagem

Ópio. Haxixe. Quem diria virarem linguagem transubstanciada na alquimia dessas plantas. Não nos enganemos quanto ao tipo ideal proposto para uma experiência imaginária com o haxixe nesses Paraísos Artificiais, pois sem dúvida é Baudelaire o experiente real que concentra as máximas canábicas em poesia. No gozo da ocultação faz o elogio da erva, e ao finalizar o Poema do Haxixe o anátema lançado a um maconheiro tão quimérico chega mesmo a ser gracioso.
Já Thomas De Quincey, torturado pelo ópio talvez tenha frustrado a continuidade de seus diálogos com Espinosa, abandonando a grande obra filosófica inspirada neste último, e que o justificaria ao tempo. Feitiços do Verbo, que o preferiu, quiçá, nas iluminadas páginas que deram a Baudelaire a ventura de nos infundir a lúcida essência de uma alucinante verdade. E que numes levaram o poeta a se encontrar tão integralmente nas linhas desse outro paraíso?
Mesmo que distante desses rituais o leitor viverá a potência da viagem sutilizada pela música do texto em seus íntimos mais secretos enquanto ingenuamente sonha ler um livro.

(Mário Montaut)