quarta-feira, 10 de agosto de 2011

“Sem você 2”: silêncio

Uma coisa é ouvir música. Outra é ouvir a intensa vaia de uma platéia enraivecida diante do piano fechado de John Cage querendo demonstrar a importância de uns poucos minutos de silêncio. Em “Sem você 2”, do álbum “Chico”, é silêncio que se ouve. Chico Buarque é silencioso. Não só em silêncios de pausa. Silêncio mesmo; real, encarnado. Da carne do silêncio sei que existe e habita essa canção. Não é a tristeza dela o que mais me toca, mas o silêncio que a faz possível. Para “tornar o pensamento visível”, René Magritte elide dos seus temas os elementos excessivos, buscando evocar um “silêncio mental” em quem contempla suas telas. A solidão de Chico ouvindo “uma nuvem a vagar no céu”, ou “uma lágrima a cair no chão” são imagens de Magritte. Silêncio. E no conjunto dessas imagens ouço o músico num domingo olhando o mar e as ondas. Chico. Magritte. Telas mais que visões; canções do silêncio. Algumas cantadas e pintadas por ambos, num silêncio de parcerias inevitáveis.


(Mário Montaut)