quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Influência Beatle

Não basta dizer o quanto Apolo e Dionísio subitamente reencarnados em Lennon e McCartney chacoalharam os jovens coretos de idéias extemporâneas.
Que Help, The Fool on the Hill, Across the Universe, The Long and Winding Road, Let it Be, Penny Lane, Eleanor Rigby, Strawberry Fields Forever, Yesterday, Because, Here Comes The Sun dão sangue arcano puro céu.
Que a bossa de Beto, Milton e Lô reencontra Bach e Debussy numa insuspeita praia de Jobim.
Que o lampejo “Canalha” de Walter Franco arrebata platéias de festival num decalque de Lennon porque este é intransponível de outro modo; e que os fascínios musicais de Paul, da ordem do sol sobre cantos de domínio público, prosseguem no influxo tão propício como impalpável.
É pouco saber da mais lúcida vestal, da locomotiva arrancando faíscas do trilho eufórico, da falência da sisudez, do realejo a cumprir esquinas do riso e esquecimento, da delicadeza do embalsamado maestro, do cabaré em sua voltagem de fada, do renascimento das cornetas de feira, do relógio de bolso concordando com a rede de balanço e com os arrazoamentos marinheiros, dos quatro cavaleiros de pureza vária a romperem selos, espelhos e diques num fractal de oceano inédito.

(Mário Montaut)